quarta-feira, 14 de abril de 2010

         Fala-se como fato verdadeiro, que certo candidato, já um tanto puxado na idade, desenvolvia intensa e cansativa campanha para chegar ao palácio da Prefeitura de
certa cidade.
         A todos prometia que, se eleito, tudo ia mudar: as perseguições, os crimes, os maus-tratos, e, bem assim, a pobreza seriam exterminados do município, de modo que todos podessem viver em paz e de barriga cheia. Esta era a tônica de sua campanha, que não via a hora de terminar.
         O peditório aumentava muito, acima da proporção esperada. O sexagenário candidato, já visivelmente cansado, mas, com muita esperança de ser o escolhido, não podia dizer não a ninguém e assim, atendia um a um os pedidos que lhes eram feitos.
         O homem, que antes era um tanto carrancudo, sério e inflexível, tornara-se uma pessoa fácil, bondosa e sorridente, capaz de agradar a todo mundo
         Ao final de muitas noites, já extenuado, sem poder conciliar o sono, recorria às opiniões de sua mulher, que também dizia se achar cansada e com pouca coragem de chegar ao fim da campanha, e, quando menos esperava lá se vinha o dia clareando. Aquilo era uma crucificação para o pobre casal, que já não sabia mais o que fazer. Na imaginação do destemido candidato, o tempo não saía do lugar, estava parado.
         Certa ocasião, bem perto da decisão final daquela amargura, já com pouco recurso e sem saber o que fazer para resolver tantos problemas, bateu-lhe à porta, muito cedo da manhã, seu melhor correligionário e compadre "fulado de tal", que após tomar café com leite, pão, bolo e bolacha, puxou do bolso uma lista de mais de trezentos nomes, segundo ele, de eleitores, e logo foi dizendo: "Taqui cumpade, o meu eleitorado, que não tem um para negá fogo..."
         Obrigado compadre, agora, estou certo que serei eleito, com certeza, conte comigo, não tenha cerimônia.
         Não custou muito, seu compadre chamou-lhe à um canto da sala e disse que tinha um pedido a fazer, mas que estava sem muita coragem, o que é isso compadre, você sabe que somos amigos e não seria agora que iria lhe faltar, pode dizer compadre, conte comigo. O também sexagenário compadre, não mais se fez de rogado e foi direto ao assunto: "Sabe o que é cumpade, eu queria que você me desse sua muié pra mim, você já tem muita, não vai fazê falta".
         O mundo rodou, o homem mudou de cor, foi lá e veio cá, pensou em tudo em pouco tempo, diante daquele pedido que lhe fizera seu compadre, mas, afinal de contas, não podia perder a eleição, o homem contava com mais de trezentos votos, que iriam garantir a sua vitória. A calma e o bom senso, no momento, era a solução. Feita as ponderações, acertou com seu compadre, para resolver o problema logo depois da vitória e que da parte dele, tudo iria dar certo. O velho, ficou radiante de alegria e saiu aos pinotes.
         Imagine o caro leitor, como ficou abalada e ferida a sua dignidade, diante de tamanha e inesperada ofensa.
         Chamou às portas fechadas sua companheira, e contou-lhe o que havia se passado. Casada, mãe de filhos, dos quais dois formados, netos, dotada dos melhores sentimentos religiosos, exemplar dona de casa, fiel esposa, de irretocável comportamento, contando quase quarenta anos de casada, ficou indignada, com justa razão, com o comportamento endiabrado de seu velho compadre. Contudo, seu marido, já de cabeça fria, pediu-lhe que tivesse calma e desse continuação à sua vida, como dantes.
         Chegou o dia da eleição e o eleito foi mesmo o esperado, compadre do pidão, não muito bem ajustado do juízo.
         Dois dias depois de sua posse, o Sargento, Delegado de Polícia da cidade, foi à Prefeitura com a finalidade de fazer uma visita e apresentar seus préstimos ao novo Prefeito. Este, na ocasião, fez um relato completo sobre o que aconteceu entre ele e seu compadre "fulano de tal". O Delegado, ficou horrorizado, e leu no semblante do Prefeito, a indignação que lhe causou tal fato. E aí, seu Prefeito, o que é que o senhor quer que eu faça? Com reserva, dê um ensino bom neste cabra, respondeu. Neste mesmo dia o homem foi preso e chegou à Delegacia aos trancos e barrancos. O acontecimento repetiu-se por várias vezes, quase sempre acompanhados de bons ensinamentos... Daí por diante, nunca mais o pretendente da mulher do Prefeito, teve saúde e disposição para nada.
         Moral da história: O tiro saiu pela culatra.

Epitácio Brito
Fortaleza 18/06/04

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